O consumo do arroz na dieta alimentar de grande parte da população mundial é um costume inquestionável e dificilmente sofrerá modificação. No final da década de sessenta, na primeira grande “revolução verde”, a planta de arroz foi submetida a consideráveis alterações genótipicas e fenotípicas, o que contribuiu para proporcionar importantes ganhos em qualidade e produtividade. Porém, nos últimos anos, a produtividade média da cultura vem se mantendo estável, não só pela possibilidade de se ter sido atingida a aproximação do seu potencial, mas sobretudo, pelas possíveis dificuldades de inter-relacionamento entre os resultados de pesquisa e o produtor, o que implica no impedimento de transferências e adoção de tecnologias modernas.
A produção do arroz no Brasil apresenta uma das características de ser cultivado em variadas situações quanto a disponibilidade hídrica e de sistemas de cultivo, englobados sob dois grandes ecossistemas: 1) ecossistema de terras altas, abrangendo os sistemas de cultivo de sequeiro (sem irrigação) e os sistemas com irrigação suplementar; e 2) o ecossistema de várzeas, englobando o arroz irrigado por inundação controlada, em várzeas sistematizadas, e o arroz cultivado em várzeas úmidas não sistematizadas.
No Estado do Amapá o arroz é praticamente cultivado em todos os municípios, com predominância para o cultivo de sequeiro. Os solos, onde se realiza o cultivo, são geralmente ácidos e de baixa fertilidade natural, o que é uma fator decisivo para as baixas produtividades obtidas. Outros dois fatores, também fundamentais, que contribuem para o fraco desempenho produtivo da cultura no Estado, se relaciona a falta de uso de técnicas modernas e a carência de cultivares de qualidades superiores.
O Amapá é detentor de grandes áreas de várzeas que apresentam média a alta fertilidade e, com plenas condições de ser explorado com a rizicultura. Desta maneira surge a demanda de pesquisa de se identificar linhagens de boa adaptação e este ecossistema.
Desta forma, objetivando identificar cultivares de arroz de elevada capacidade produtiva e boa aceitação comercial a Embrapa Amapá em conjunto com a Embrapa Arroz e Feijão e a Embrapa Amazônia Oriental reiniciaram os trabalhos de melhoramento genético com a cultura do arroz no Estado do Amapá. No ano agrícola 2000/2001 foi conduzido um experimento no ecossistema de várzeas sendo os resultados mostrados a seguir.
O experimento foi instalado em 28/12/00 as margens do Rio Vila Nova, em blocos ao acaso com trinta tratamentos e quatro repetições. Não houve uso de abubação e as parcelas foram constituídas de 6 linhas de 5 metros de comprimento, espaçadas entre sí de 0,30 m, sendo este também o mesmo espaçamento entre covas dentro da linhas. Foram semeadas, de forma manual, quatro a cinco sementes e realizadas três capinas com auxilio de enxadas. Por ocasião da colheita foi eliminado 0,50m nas duas extremidades das linhas e desprezadas as duas linhas laterais, tendo-se 4,8m2 de área útil. A colheita foi realizada, por panículas , quando 2/3 encontravam-se maduras. Os dados avaliados foram numero de dias para a floração, altura de planta (cm) e produtividade com 13% de grau de umidade. Foram também realizadas inspeções visuais, por ocasião do florescimento, para o registro de doenças mais freqüentes que ocorrem na cultura do arroz, como brusone, mancha parda, mancha-nos-.grãos, escaldadura e queima-da-bainha.
Tomando-se com base a média de produtividade do experimento que foi de 2.510 kg/ha, em relação com a média de produtividade que se obtém no Estado, que está em torno de 1.200 kg/ha pode-se afirmar que os resultados foram promissores Houve diferença significativa para a característica produtividade, sendo o maior desempenho o da linhagem CNAi 8861 que produziu 4.224 kg/ha, sendo estatisticamente igual as linhagens CNAi 8864, CNAi 8870,CNAi 8883, CNAi 8023 e Formoso, que produziram 3.994,5 kg/ha, 3.764,3 kg/ha, 2.881,5 kg/ha, 2.887,8 kg/ha e 2.885,8 kg/ha, respectivamente.
A cultivar Cica 8, com 80,0 dias decorridos da emergência, apresentou o maior período médio de floração, sendo estatisticamente igual as linhagens Marajó, CNAi 9018, CNA 8569, CNAi 8721, CNAi 88558 e CNAi 8870, que floraram aos 77,7 dias; 77,7 dias; 75,7 dias; 75,0 dias; 74,5 dias e 71,5 dias, respectivamente. A média de floração do experimento foi de 70,4 dias, sendo que a linhagem CNA 8747 iniciou a floração ao 62,7 dias após a emergência, sendo o menor período entre as linhagens.
A altura média de altura de plantas ficou num intervalo de 121,7cm para a linhagem CNA 8569 a 87,2cm para a linhagem Cica 8, sendo 110,8cm a média do experimento.
Em avaliações feitas em campo, todas as linhagens mostram-se imunes à doenças que causam danos econômicos a cultura do arroz.
Preliminarmente a linhagem CNAI 8861, com produtividade média 4.224,3 kg/ha, floração de 67,0 dias após a emergência e altura média de planta de 114,7 cm, desponta como promissora para o ecossistema de várzea do Amapá.