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Faça do dinheiro um peão da sua propriedade


Edivan Júnior Pommerening

     Você se dedica sete dias por semana, trinta dias por mês à sua propriedade. É um exímio bovinocultor de leite, suinocultor, avicultor, produtor de cereais, frutas ou hortaliças. Segue as recomendações técnicas e boas práticas de manejo da cultura. É um apaixonado pelo que faz, e ainda assim tem a sensação de que sobra pouco ao final do mês ou da safra?
     Se a resposta da pergunta anterior for “Sim”, talvez você não esteja extraindo do dinheiro todo o seu potencial. A habilidade de lidar com o dinheiro é tão importante quanto a habilidade de lidar com os animais, as plantas, o clima, os insumos e as máquinas agrícolas, pois a escassez da primeira pode murchar a rentabilidade da segunda.
     A renda da propriedade precisa ser convertida em capital líquido, que é a soma de tudo o que você tem menos o que deve. É esse capital que lhe garantirá a independência financeira lá na frente, sobretudo na aposentadoria. Por isso é necessário fazer o capital líquido aumentar de forma constante. E o primeiro passo nesse sentido é ter controles.
     Boas escolhas de financiamentos e investimentos a fim de aumentar o capital da propriedade requerem dados em quantidade e qualidade suficientes, que por sua vez precisam ser cruzados e transformados em informações. Por isso, saber de onde vem e para onde vai o dinheiro é vital. Principalmente para onde vai, pois essa “caixa d’água” possui diversas saídas.
     Seja com a ajuda de um caderno, de uma planilha de computador ou de um aplicativo de celular, anote todas as receitas (entradas de dinheiro), todas as despesas (saídas de dinheiro) e os financiamentos e investimentos realizados. É fundamental separar as anotações por atividade desenvolvida e dentro de cada atividade separá-las por tipos de receitas e despesas.
     Anote também: 1) A mão-de-obra da família: quanto alguém cobraria para fazer o serviço que você e seus familiares fazem? É o valor da mão-de-obra, que precisa entrar nas despesas; 2) A depreciação dos bens da propriedade: embora não saia dinheiro do seu bolso, ela deve ser considerada, pois daqui algum tempo o trator precisará ser substituído.
     Passados alguns meses você já poderá começar a tomar decisões com base no histórico de dados que possui. A categorização de despesas lhe permitirá identificar pontos para corte de custos, por exemplo. A separação por atividade possibilitará visualizar as de maior ou menor rentabilidade e, porque não, aquelas que precisam ser descontinuadas ou ampliadas.
     Concluída essa empreitada de controle, é chegada a hora de contratar um peão especial para trabalhar na sua propriedade: o dinheiro. Ele entregará todo o seu potencial se for bem administrado pelo seu patrão. A vantagem é que esse peão trabalha 24 horas por dia, sem reclamar, sem férias ou décimo terceiro, e sem lhe chamar na Justiça do Trabalho.
     Separe religiosamente uma fatia do que sobra de cada atividade e forme um “fundo de reserva”. Ele servirá como um colchão de segurança para suportar crises, porém, sua principal função é aproveitar as oportunidades do mercado. Ao comprar os insumos para a próxima safra com 10% de desconto por ter o dinheiro à vista, esse peão estará trabalhando para ti.
     Após formar seu fundo de reserva, uma alternativa é investir o restante do dinheiro em produtos financeiros. A escolha do produto variará em função dos seus objetivos de curto, médio e longo prazo, e o seu apetite a risco. Um objetivo de curto prazo pode ser uma viagem de férias, de médio prazo a faculdade dos filhos e de longo prazo a sua aposentadoria.
     Em termos de apetite a risco o investidor pode ser conservador, moderado ou arrojado, sendo que o conservador é o que menos tolera perdas e o arrojado o que mais tolera. Contudo, todo ônus carrega consigo um bônus: quanto maior o risco de perda, maior a possibilidade de ganho. Essa regrinha vale para qualquer tipo de investimento na sua vida.
     Se você é “conservador”, invista a maior fatia dos seus recursos em produtos de renda fixa, como a Poupança. Porém, atualmente ela está rendendo alguns centavos acima da inflação. Existem papéis no mercado financeiro que rendem mais do que a Poupança e são tão seguros quanto. Títulos Públicos Federais e RDC’s de cooperativas financeiras, por exemplo.
     Se você é “arrojado”, que tal ser dono de indústrias de fertilizantes e implementos agrícolas em vez de apenas cliente? Isso é possível por meio da aquisição de ações dessas empresas. No mercado de renda variável, como é o caso das ações, também é possível proteger parte ou toda sua produção da oscilação de preços, por meio de contratos futuros.
     Antes de adentrar no mercado financeiro, especialmente no de renda variável, é imprescindível estudar bem o assunto e/ou pedir ajuda a um especialista. Existem cursos excelentes na área, inclusive gratuitos. Vale a pena seguir alguns especialistas no Youtube. Assim como é preciso se preparar para o plantio, com os investimentos financeiros não é diferente.
     Não importa o tamanho e o volume de recursos que gira na sua propriedade. Um fundo de reserva para amortecer crises e aproveitar bons negócios e investimentos adequados no mercado financeiro de acordo com seus objetivos e perfil de risco podem maximizar a rentabilidade da porteira para dentro. Para isso, faça do dinheiro o seu melhor peão!

Sobre os autores desse artigo:
Edivan Junior Pommerening é professor universitário com certificações profissionais pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais - Anbima.
Rodrigo Fiorese é corretor de seguros e investidor no mercado financeiro.

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