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Poluição do espectro eletromagnético pode reduzir população de insetos


Decio Luiz Gazzoni

A radiação de telefones celulares pode ter contribuído para o declínio dramático nas populações de insetos visto em grande parte da Europa nos últimos anos, mostrou um estudo alemão. Além de pesticidas e perda de habitat, o aumento da exposição à radiação eletromagnética está provavelmente tendo um impacto negativo no mundo dos insetos. O estudo foi divulgado em setembro de 2020, em Stuttgart, e ainda não foi revisado por especialistas.

Referido estudo é uma análise de 190 estudos científicos, realizada pela Nature and Biodiversity Conservation Union (NABU) da Alemanha em conjunto com duas ONGs, uma da Alemanha e uma de Luxemburgo. Dos 83 estudos considerados cientificamente relevantes, 72 mostraram que a radiação teve um efeito negativo sobre as abelhas, vespas e moscas. Esses efeitos variaram desde uma capacidade reduzida de navegar devido à perturbação dos campos magnéticos até danos ao material genético e às larvas.

A radiação do celular e do Wi-Fi, em particular, abre os canais de cálcio em certas células, o que significa que elas absorvem mais íons de cálcio. Isso pode desencadear uma reação em cadeia bioquímica nos insetos, interrompendo os ritmos circadianos e o sistema imunológico.

O assunto é incômodo para muitos de nós porque interfere em nossos hábitos diários e há interesses econômicos poderosos por trás da tecnologia de comunicação móvel. Em contraste, são poucos os cidadãos que possuem uma ideia clara sobre “food web”, ou cadeia trófica alimentar, e sobre serviços ecossistêmicos.

 Os insetos são parte integrante da cadeia alimentar, um sistema altamente complexo. Sempre que um dos elos desta cadeia é rompido, cria-se um caos na cadeia, com efeitos imprevisíveis. Como a espécie humana está no topo da cadeia (biologicamente é o predador-mór), isto pode significar problemas de abastecimento de alimentos.

Igualmente, a redução na oferta de serviços ecossistêmicos pode afetar a oferta de alimentos ou, ao menos, o seu custo. Serviços como polinização ou controle biológico de pragas podem ser muito afetados e comprometer a oferta de alimentos.

As redes equipadas com tecnologia 5G oferecem velocidades 100 vezes mais rápidas do que as redes 4G existentes. Esta é a razão pela qual o uso desta faixa do espectro redundou em forte oposição de alguns setores, especialmente entre os ativistas ambientais.

Avanço tecnológico é fundamental para a qualidade de vida no planeta Terra. Mas, a chave do sucesso está em atentar para a sua sustentabilidade, o seu custo benefício, cotejar os impactos negativos frente aos ganhos que uma tecnologia oferece.

 

Décio Luiz Gazzoni é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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