Na Amazônia Brasileira a expressão “várzea” é empregada para definir áreas sujeitas a inundações periódicas causadas pela enchente dos rios. Essas áreas, em geral, distribuídas nas margens dos rios, anualmente estão sujeitas a inundações, através das quais são registrados aportes de sedimentos, particularmente nos chamados rios de “água barrenta”, a exemplo do Rio Amazonas. Devido a isso os solos de várzea são caracterizados, na maior parte, por apresentarem média a alta fertilidade natural, devido a deposição de sedimentos ricos em minerais carregados em suspensão nas águas barrentas. Por apresentarem boa fertilidade natural os solos de várzea podem ser cultivados na época das vazantes.
A exploração agrícola nestas terras marginais inundáveis vem sendo praticada na Amazônia há muitos anos. O cultivo das espécies é variado, porém a exploração com culturas para a produção de alimentos é a que sobressai, haja vista predominância da classe do agricultor familiar.
No Estado do Amapá existem extensas áreas inundáveis agricultáveis, a maioria, com grande possibilidade de ser incorporada ao processo produtivo do estado. Todavia são poucos produtores ribeirinhos que exploram este ecossistema como forma de tirar o maior proveito da fertilidade natural por ele apresentado. Algumas dificuldades, como difícil uso de sistematização nas áreas, grande infestação de invasoras (principalmente a partir do segundo ano de exploração) e dificuldade de acesso as propriedades, tem contribuído para desestimular o pequeno produtor em cultivar este ecossistema.
A pouca prática agrícola nas várzeas do Amapá tem mostrado a sua superioridade produtiva em relação a prática de cultivo de terra firme. As informações basicamente relacionam-se à época de plantio e a utilização de cultivares adaptadas. Aliado a isto é observado que o acervo de informações agrotécnicas se referem a exploração de uma única cultura a cada ano.
No Amapá, desta forma, surge a necessidade de se estabelecer sistemas de plantio com diferentes opções de utilização das várzeas ou ajustar os atuais em uso pelos produtores de modo a diversificar a produção e tirar melhor proveito do potencial produtivo das áreas. A Embrapa Amapá tem procurado dentro de suas linhas de pesquisa encontrar alternativas de uso racional para as várzeas, principalmente com a utilização de culturas alimentares. Algumas práticas de rotação de cultura como arroz seguido de mandioca e arroz seguido de milho já foram evidenciadas. A seguir é mostrado os resultados de pesquisa do cultivo do feijão caupi em sucessão ao cultivo do arroz, que poderá ser mais uma opção para o pequeno agricultor ribeirinho do Amapá.
Os experimentos foram instalados nas margens do rio Vila Nova, no campo experimental da Embrapa, localizado no município de Mazagão, distante a 38 km da capital do Estado do Amapá. O solo Gley pouco húmico hidromórfico não foi suprido de corretivos e adubos químicos sendo o plantio e os demais tratos culturais, assim como as operações de colheita e beneficiamento realizados de forma manual, como predominantes nas áreas ribeirinhas.
As várzeas do Amapá normalmente permanecem constantemente úmidas ou alagadas durante o período de janeiro a junho, sendo que a medida que se avança os meses do calendário civil vão se tornando gradativamente secas e tomando consistência firme. Desta forma por se tratar de uma espécie hidrófila e suportar solos encharcados o arroz foi semeado no início mês de janeiro, utilizando-se o espaçamento de 0,30m x 0,30m e três a quatro sementes por cova.
O feijão caupi foi semeado no mês setembro, em rotação ao arroz, no espaçamento de 0,50m x 0,30m com quatro sementes por cova e permanência de duas plantas após o desbaste, realizado dez dias após a emergência.
Na cultura do arroz não foi verificado o ataque de doenças, enquanto que um leve ataque de percevejos foi notado na fase de granação da cultura, sem no entanto causarem prejuízos a produção final de grãos. Para o feijão caupi foi observado um ligeiro ataque de antracnose e a presença da “vaquinha –
Diabrotica speciosa que foi controlada com duas pulverizações de inseticida específico em intervalos de quinze dias entre uma aplicação e outra. As produtividades foram corrigidas para um grau de 13% de umidade.
O arroz apresentou produtividade média de 2.820 kg/ha o que não corresponde um bom desempenho para as várzeas. Em trabalhos experimentais tem-se conseguido produtividade acima 4 t/ha de grãos. O desempenho produtivo do arroz pode está relacionado ao pouco perfilhamento da cultivar e ligeiro ataque de pássaros prejudicando o estande final no momento da colheita.
O feijão caupi em rotação ao arroz obteve produtividade média de 681 kg/ha de grãos o que pode ser considerado um bom desempenho quando comparado com a produtividade média de terra firme que está em torno de 200 kg/ha. Para as várzeas, torna-se difícil realizar-se um comparativo visto que não é usual ou tradição se cultivar esta leguminosa em plantio nas várzeas. Em trabalhos de pesquisa em várzeas que foram iniciados em 2001 com o caupi, tem-se conseguido rendimentos médios de até 1.550 kg/ha de grãos.
Numa avaliação geral, o cultivo do feijão caupi após o cultivo do arroz mostrou-se uma prática extremamente viável e de simples adoção para as várzeas. Com o uso de cultivares de elevado potencial produtivo e de boa aceitação comercial, poderá se criar um grande estímulo para a adoção deste sistema entre os produtores familiares das regiões ribeirinhas do Amapá.
