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Cultivo em rotação nas várzeas


Emanuel Cavalcante

Em estudos realizados no Estado do Amapá indicam que cerca de 78% da extensão territorial do Estado possui áreas aptas para serem utilizadas na atividade agropecuária. Dentro destas áreas há a predominância da exploração em cultivo de terra firme, por ser o ecossistema que possui maiores informações agrotécnicas sobre as culturas tradicionalmente mais cultivadas no Amapá.

As limitações de fertilidade natural dos solos de terra firme aliado ao alto custo de insumos, principalmente fertilizantes, têm contribuído de maneira marcante para baixas produtividades que são alcançadas no Estado. Desta forma a produção total de alimentos básicos como arroz, milho, feijão e mandioca, ao longo dos anos, não vem atendendo a demanda para suprir as necessidades locais. Um outro aspecto a se considerar neste ecossistema é que a exploração agrícola é praticamente feita em sistema de monocultivo.

O Estado do Amapá, como alguns outros estados da região Amazônica, possui extensas áreas de várzeas, onde o solo é resultante da continua deposição de sedimentos deixados durante as enchentes dos rios de água barrenta, o que na grande confere-lhe uma média a alta fertilidade natural.

A exploração agrícola nas várzeas do Amapá tem evidenciado sua superioridade produtiva em relação aos solos de terra firme sendo que as informações disponíveis sobre esse ecossistema estão somente relacionados à época de plantio e ao uso de cultivares adaptadas.

Apesar da potencialidade produtiva apresentado pelos solos de várzeas, sua utilização para fins agrícola tem sido limitado pela grande incidência de invasoras e principalmente por falta de sistemas de plantio que melhor aproveite os recursos ambientais. No Amapá o ecossistema de várzea tem sido explorado com atividade agrícola em monocultivo, tendo como principal cultura, no aspecto geral, o cultivo do milho.

No Estado do Amapá, desta forma, existe a necessidade de se estabelecer alguns sistemas de plantio com diferentes opções de utilização dos solos de várzeas ou ajustar os atuais em uso pelos produtores locais, de modo a diversificar a produção e tirar melhor proveito do potencial produtivo das várzeas. A Embrapa Amapá tem procurado dentro de suas linhas de pesquisa encontrar alternativas de uso racional para as várzeas, principalmente com a utilização de culturas alimentares, como arroz, milho, feijão e mandioca. Neste sentido foram avaliados pelos menos oito diferentes sistemas de cultivo, durante dois anos. A seguir é mostrado os resultados obtidos com arroz e mandioca e arroz e milho, em sistema de rotação.

Os experimentos foram instalados nas margens do rio Vila Nova, no campo experimental da Embrapa, localizado no município de Mazagão, distante a 38 km da capital do Estado do Amapá. O clima é do tipo Ami com precipitação média de 2.300 mm, precipitação média anual de 2.300 mm, temperatura média anual de 27ºC e umidade relativa do ar pouco acima de 80%.

O solo é do tipo Gley pouco húmico hidromórfico. Não foi utilizado corretivos e adubos químicos sendo o plantio realizado de forma manual. O primeiro sistema de plantio constou do semeio do arroz no espaçamento de 0,30m x 0,30m e após a sua colheita o plantio da mandioca no espaçamento de 1,0m x 1,0m. No segundo arranjo de cultivo o arroz também foi semeado no espaçamento de 0,30m x 0,30m sendo que após a sua colheita houve a semeadura do milho no espaçamento de 1,0m x 0,50m.

A semeadura do arroz ocorre por primeiro por ser tratar de uma espécie hidrófila o que lhe confere a caraterística de suportar cultivos em solos encharcados, como é o caso das várzeas, principalmente no período de janeiro a junho.

No primeiro sistema de cultivo (arroz seguido de mandioca) o arroz apresentou produtividade média de 2.990 kg/ha o que não corresponde uma boa marca para as várzeas. Em trabalhos experimentais obtém-se produtividade acima 4 t/ha de grãos. O fraco desempenho da gramínea pode ser atribuído ao pouco perfilhamento apresentado pela cultivar. Par a mandioca o rendimento médio de raiz foi de 6,4 t/ha, o que pode ser considerado uma boa produtividade, quando considera-se que a colheita foi realizada seis meses após o plantio. Nas condições de terra firme, onde a totalidade da mandioca é cultivada no Estado do Amapá, a média de rendimento é de 11 t/ha de raiz com a colheita realizada a partir de um ano decorrido do plantio.

Para o segundo sistema de plantio (arroz seguido de milho) a produtividade média do arroz foi de 3.580 kg/ha enquanto milho apresentou rendimento médio de 3.580 kg/ha. Para o milho também no caso em trabalhos experimentais alcança-se produtividades médias acima de 5 t/ha de grãos.

De maneira geral os dois sistemas de cultivo mostraram-se viáveis para as condições de várzeas, no que se refere a adaptação e desenvolvimento vegetativo. No aspecto produtivo é possível elevar-se de maneira significativa o desempenho das culturas, desde que se disponha de cultivares de comprovada adaptação ao ecossistema em questão.

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