A mandioca é tão importante nas regiões tropicais quanto o milho, arroz, feijão e outra culturas alimentares. Desta forma nos últimos anos vêm crescendo o interesse pelo seu estudo, passando a ser vista não apenas como cultura alimentícia, mas como cultura de grande expressão econômica à ser utilizada na agroindústria. Como exemplo de sua importância pode ser citado o fato de ser considerada como uma das fontes de matéria fundamentais para a produção de álcool como substituto de gasolina em veículos automotores.
Na Região Amazônia a cultura da mandioca tem um papel fundamental no processo de sustentação de vida dos agricultores e é um componente essencial na dieta alimentar da população, principalmente àquela de baixo poder aquisitivo. Os primeiros colonizadores portugueses ao chegarem nesta região no século XVII já deparam com a mandioca sendo preponderantemente a cultura explorada, como até hoje acontece. Desta forma o caráter social da mandioca na Amazônia sempre foi e continua sendo bastante expressiva, mantendo uma hegemonia duradoura e interrupta entre as culturas alimentares.
No Estado do Amapá a mandioca e a principal cultura explorada entre todas as demais sendo encontrada em praticamente 100% das propriedades rurais. Torna-se a cultura de maior expressão sócio-econômica do meio rural e representa, na forma de consumo de farinha, a base da alimentação dos agricultores e de suas famílias.
Apesar de sua importância nenhuma melhoria tem sido introduzida em sua forma de cultivo no estado o que tem levado a cultura a obter rendimentos muito aquém daqueles obtidos em outras unidades da federação. Dentro deste enfoque a utilização de cultivares de elevado potencial produtivo representa uma ação importante para melhorar o desempenho da cultura e dotar os agricultores de materiais que lhe ofereçam ganhos significativos de produtividades. Desta forma a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) tem intensificado os trabalhos de pesquisa com a cultura da mandioca no Amapá de forma a disponibilizar aos produtores cultivares de elevado potencial produtivo.
Trinta e cinco cultivares foram avaliadas inicialmente no campo experimental da Embrapa Amapá localizado no município de Mazagão, que segundo a classificação de Köppen apresenta um clima do tipo Ami, precipitação média anual de 2.300 mm e um período chuvoso que se inicia no final do mês de dezembro ou início de janeiro. A temperatura média anual é de 27ºC e a umidade relativa do ar acima de 80%.
O preparo do solo da área experimental, que apresentava uma vegetação do tipo de capoeira, constou de uma aração e uma gradagem. O solo é do tipo Latossolo amarelo de baixa fertilidade natural.
Não houve aplicação de fertilizantes e corretivos de solo. Não foi utilizado delineamento experimental e as cultivares foram plantadas na forma de coleção totalizando trinta e cinco materiais ao todo. O espaçamento foi de 1,0m entre linhas e 1,0m covas, com a utilização de uma maniva de 20 cm plantada na cova de forma horizontal. As parcelas tiveram um área total de 14 m² com 14 plantas em cada uma delas.
A colheita foi realizada aos quinze meses após o plantio, sendo avaliado a produtividade de raiz por hectare, produção da parte área por hectare, percentual de farinha produzido por cada cultivar em relação a produtividade de raiz e aspecto visual de doenças e arquitetura de plantas. Devido à falhas no estande treze materiais foram descartados das mensurações. As cultivares avaliadas foram: Pretinha, Lagoa II, Anajá, Xapurá, Itauba, Cearense-1, Mameluca, Sutinga, SM 327, Olho Verde, Placreana, Pai Lourenço, Pau-de-Xexéu, IAN-2, Bacuri, Farinhão, Farias, Inambu Roxo, Branquinha Negamina, EAB-1o15, IAN-1, Engana Ladrão, Cacau Vermelho, Jurará, Iracema, Tainha, Mangue Mirim, Tucum, Boinha, Rainha do Sol, Cachimbo, Riqueza, Aipim Pão, Cravo e Maranhense.
Na avaliação visual de campo no que se refere ao ataque de doenças todas as cultivares mostraram-se imune. É importante frisar que esta imunidade foi avaliada até aos quinze meses decorridos, período em que foi realizada a colheita.
Na característica de produtividade a cultivar Mameluca obteve o melhor desempenho com 56,5 t/ha/raiz, porém com um rendimento de farinha de 18%. Outra cultivar que obteve boa produtividade foi a Sutinga com 31,5 t/ha/raiz, todavia apresentou um percentual de produção de farinha da ordem de 16%. Considerando-se que as cultivares utilizadas pelos agricultores situam-se entre os percentuais de 19% a 25% na relação produção de raiz versus produção de farinha, estes materiais dificilmente seriam adotados em plantios no estado. Pelas boas produtividades obtidas poderiam ser uma opção para serem utilizadas em outros derivados da cultura que não fosse a farinha.
A totalidade da mandioca cultivada no estado é com finalidade de produção de farinha pois sua comercialização, eminentemente local, torna-se a principal fonte de obtenção de recursos financeiros assim como também o principal produto de alimentação dos produtores e de seus familiares. Existe no meio rural o uso do termo “mandioca aguada” para designar àquelas cultivares que apresentam um baixo rendimento de farinha. Portanto em trabalhos experimentais avaliar o percentual de conversão de farinha é fator praticamente obrigatório. Outro aspecto importante que deve ser levado em consideração, mas que foi objetivo do trabalho, diz respeito o tipo (cor, odor, granulometria etc.) de farinha mais aceito pelos consumidores locais.
As cultivares Farias com 29% e Placrena com 26% foram as de melhor desempenho no percentual de conversão de farinha com rendimento de 16,7t/ha/raiz e 29,6 t/ha/raiz, respectivamente. O desempenho da cultivar Farias na produção de farinha reforça a grande aceitação de cultivo entre os produtores do estado, mesmo não tendo apresentado um boa produção de raiz. Os materiais Iracema, SM. Iauba, Cearense-1 e Lgoa II, com 7,7 t/ha/raiz, 6,9 t/ha/raiz, 6,5 t/ha/raiz, 4,9 t/ha/raiz e 2,4 t/ha/raiz, respectivamente, apresentaram as menores produtividades. Os baixos estandes das parcelas podem ter contribuí para este fraco desempenho.
As cultivares EAB-1015 com 11%, Inambu Rocho com 13% e IAN-2 com 14%, foram as de menores percentuais de conversão de farinha.
A cultivar Olho Verde apresentou excelente produção de manivas e plantas eretas com pouca produção de folhagem o que lhe confere boa característica para ser utilizada em plantios consorciados. Por outro lado a cultivar Pau-de-Xexéu com características de plantas extremamente esgalhadas pode ter limitação em ser utilizada em consórcio com outras culturas, especialmente plantas alimentares.