Produção de animais precoces, mais pesados, a finalidade da produção da RIP e TIP
Guilherme Augusto Vieira[1]
O pecuarista de corte no Brasil não é mais o personagem tradicional, focado apenas na criação extensiva e nosconhecimentos empíricos. O cenário atual, impulsionado pelo mercado, pela demanda por sustentabilidade, eficiência e carne de qualidade, está moldando um novo perfil profissional: o empresário rural com foco em gestão e uso de tecnologias.
A evolução da pecuária é impulsionada por produtores atentos às novas demandas do mercado. Eles adotam tecnologias como identificação eletrônica, uso de inteligência artificial e drones para monitoramento de pastagens, sistemas produtivos intensivos e semi-intensivos, utilizam técnicas avançadas de reprodução (IATF) e cruzamento industrial, e investem em uma ampla gama de suplementos nutricionais (minerais, proteinados, injetáveis, etc.). O objetivo central dessas inovações é ajustar e maximizar a produtividade da pecuária.
Entretanto, apesar dos avanços na produção, a pecuária brasileira enfrenta um grande desafio que é o período seco do ano.
Durante o período seco o valor nutritivo e a produção de gramíneas forrageiras nos trópicos diminuem levando a desnutrição dos animais criados a pasto e consequentemente baixo ganho de peso, baixa produção de leite, baixos índices reprodutivos, o que impacta diretamente nos custos e qualidade da produção de pecuária de corte e leite no Brasil.
Nos anos 1980, visando mitigar os efeitos deletérios da seca, implementou-se o confinamento e o uso de proteinados. Essas tecnologias permitem, respectivamente, a engorda de animais no período seco e a manutenção do peso do gado.
Mais adiante foi desenvolvido o semiconfinamento é um sistema de produção semi-intensiva a pasto (Vieira, 2019)[2],
Atualmente, a pecuária de corte começou a adotar a RIP (Recria Intensiva a Pasto) e a TIP (Terminação Intensiva a Pasto).
A Recria Intensiva a Pasto (RIP) é um programa de suplementação estratégica (consiste no uso de rações e proteinados tendo o pasto como volumoso) que visa acelerar o desenvolvimento de animais jovens.
Aplicada na fase pós-desmama (geralmente dos 7-8 meses de idade, com 180-210 kg de peso vivo) até o período que antecede a terminação (aproximadamente 350 kg de peso corporal, variável por mercado e região) A RIP é uma resposta direta à alta demanda por animais de qualidade para engorda e reprodução.
Historicamente, a fase de recria é o maior gargalo da pecuária de corte, devido principalmente aos períodos secos e a suplementação inadequada, os animais podem permanecer nos pastos por um longo e improdutivo período (entre 18 e 24 meses) até o início da engorda. Este ciclo lento resulta em abate e reprodução tardios, perda de eficiência e qualidade do rebanho, comprometimento do giro do capital na fazenda
A RIP foi desenvolvida precisamente para quebrar este ciclo, encurtando o tempo de permanência no campo e acelerando a produção.
A Terminação Intensiva a Pasto (TIP) é uma estratégia de engorda que adapta os princípios e técnicas de produção do confinamento tradicional para o ambiente de pastagem. Essencialmente, é um processo de terminação animal realizado no pasto, mas com uma intervenção nutricional intensiva.
Neste sistema, o foco está em fornecer aos animais rações concentradas balanceadas que atendam às suas altas exigências nutricionais. O pasto, por sua vez, atua como a principal fonte de fibra, essencial para a manutenção da saúde e do bom funcionamento ruminal. A TIP exige, portanto, a utilização de piquetes com alta taxa de lotação, um manejo sanitário rigoroso, o uso de rações de alta qualidade e animais com boa genética.
Uma das grandes vantagens da TIP é a redução da necessidade de grandes investimentos em infraestrutura de confinamento. Mesmo assim, este método proporciona um ótimo desempenho animal, resultando em bom rendimento e acabamento de carcaça. Isso possibilita a produção de animais mais precoces e, consequentemente, uma diminuição no período total de engorda.
Segundo especialistas, a qualidade da forragem durante o período seco do ano torna-se menos crítica. Isso ocorre porque o foco está na formulação precisa do concentrado, que deve compensar as variações nutricionais do pasto nesta época. Dessa forma, é possível garantir resultados satisfatórios mesmo durante o período mais desafiador do ano, desde que haja uma disponibilidade mínima de forragem para o consumo de fibra.
Para implementar a RIP e/ou a TIP, o pecuarista precisa se preparar em duas frentes: planejamento/gestão e investimentos estruturais.
Na gestão, o processo deve começar com a análise sistêmica da produção atual, seguida pela avaliação das tendências mercadológicas e pela elaboração do orçamento (viabilidade financeira). É crucial implementar um modelo de gestão que otimize os processos produtivos, visando elevar a fazenda a um novo patamar produtivo.
Estruturalmente, haverá necessidade de investimentos e melhorias, especialmente nos tratos culturais das pastagens, divisão de piquetes, estrutura de produção de rações e no aprimoramento do manejo sanitário, além do melhoramento genético.
Em suma, a adoção do ciclo curto na pecuária configura-se como uma estratégia altamente eficiente. Ao possibilitar uma aceleração significativa no ganho de peso dos animais, a metodologia garante que o peso de abate ou a maturidade reprodutiva sejam alcançados mais rapidamente. Esse manejo, quando bem planejado, compensa o investimento nas estruturas produtivas e, por consequência, se traduz em um giro mais rápido do capital e um retorno financeiro e mais ágil para a atividade.
Deseja conhecer mais sobre a RIP e a TIP acesse aqui
Caso deseje, consulte as referências bibliográficas com o autor
[1] Médico Veterinário, Doutor em História das Ciências, autor dos Manuais Semiconfinamento e Confinamento, atualmente é gestor da Plataforma www.semiconfinamento.com.br e ministra cursos e treinamentos na VeteAgroGestão. Conteudista do Giro do Boi Canal Rural , escreve no Agrolink, Folha Agrícola e O Presente Rural. Contatos com o autor: Instagram : @gvieiraoficial
[2] Conheça a obra do autor: Manual Prático de Semiconfinamento de bovinos