Por: Zilca Campos e
Marcos Eduardo Coutinho
O jacaré-paguá, Paleosuchus palpebrosus, é considerado entre as 22 espécies de crocodilianos a menor em tamanho atingindo no máximo 1.6 m de comprimento. Dentre as cinco espécies que ocorrem no Brasil, o jacaré-paguá tem a sua distribuição marcante ao longo dos rios Amazonas, Paraguai e Paraná e de suas áreas inundadas, excluindo a área central do Pantanal. Nos arredores do Pantanal, existem alguns registros de ocorrência dessa espécie nas nascentes do Rio Paraguai, Serra do Amolar, Urucum e Bodoquena. A espécie está ocupando outros habitats periféricos da planície do Pantanal, causando uma separação espacial com o Caiman crocodilus yacare (jacaré-do-pantanal).
O valor comercial de suas peles é de baixa importância no mercado justificada pela alta ossificação da sua pele aliada as baixas densidades naturais da espécie. A forma de aproveitamento que provavelmente, freqüente na região da Amazônia, é a caça de subsistência. A falta de informação ecológica da espécie, apesar da extensiva distribuição geográfica, é um fator que pode eventualmente afetar a conservação desta espécie.
Há 10 anos atrás, um estudo pioneiro da Embrapa Pantanal com a espécie foi realizado na região da serra do Amolar, na fazenda Acurizal, atualmente da Fundação Ecotrópica. A fazenda Acurizal está localizada ao Norte de Corumbá, próxima da fronteira com a Bolívia, e tem uma elevação de quase 600 m acima do nível do mar. Nos dois riachos de águas claras e substrato de areia e pedras, os jacarés-paguás, tanto adultos como filhotes foram contados, capturados e marcados.
O jacaré-paguá, P. palpebrosus, foi encontrado nos dois riachos em densidades de até oito indivíduos/km. No entanto, quando os riachos estavam mais secos, observou-se poucos jacarés. Possivelmente, os jacarés moveram-se para outras áreas dentro da floresta. Os filhotes recém-eclodidos também foram encontrados e capturados indicando que a reprodução está ocorrendo normalmente na área.
As populações de P. palpebrosus e seus habitats são razoavelmente bem protegidos na área da Serra do Amolar. No entanto, examinando dois riachos aparentemente similares na Serra do Urucum, próximo de Corumbá, observou-se que estas áreas estavam impactadas pela poluição oriunda da mineração, não sendo observada a presença de jacarés nestes riachos. Recentemente, a Embrapa Pantanal continua engajada nos estudos de distribuição e abundância do jacaré-paguá, nos arredores do Pantanal Sul e áreas da Amazônia Central, para definição do plano de conservação da espécie e de seus habitats.
Zilca Campos ([email protected]) – é pesquisadora da Embrapa Pantanal (www.cpap.embrapa.br), Corumbá-MS, Dra. em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre. Marcos Eduardo Coutinho - Dr. em Zoologia e Ecologia de Vertebrados, Ibama, email: [email protected]
Para consulta:
- Size structure and Sex ratio of dwarf caiman in the Serra do Amolar, Pantanal, Brazil. Herpetological Journal, vol.5, 321-322. 1995.
- Ecologia e status de conservação do jacaré-paguá, na serra do Amolar, Brasil. www.cpap.embrapa.br/publicações