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Sistemas de Manejo de Pastagens de Brachiaria humidicola na Amazônia


Newton de Lucena Costa

No manejo de pastagens o principal objetivo é assegurar a produtividade animal, a longo prazo, mantendo sua estabilidade e persistência. Para que se possa alcançar alta produção animal em pastagens, três condições básicas devem ser atendidas: a) alta produtividade de forragem com bom valor nutritivo, se possível, com distribuição estacional concomitante com a curva anual dos requerimentos nutricionais dos animais; b) propiciar aos animais elevado consumo voluntário, e c) a eficiência de conversão alimentar dos animais deve ser alta. Dentre os fatores de manejo que mais afetam a utilização das pastagens, destacam-se a carga animal e o sistema de pastejo.

A carga animal ou intensidade de pastejo influi na utilização da forragem produzida, estabelecendo uma forte interação com a disponibilidade de forragem como consequência do crescimento das plantas, da defoliação e do consumo pelos animais. Já, o sistema de pastejo está relacionado com os períodos de ocupação e descanso da pastagem e tem por finalidade básica manter uma alta produção de forragem com bom valor nutritivo, durante a maior parte do ano, de modo a maximizar a produção por animal e/ou por área.

Após o pastejo, metabólitos e/ou fotoassimilados para produção de novos afilhos, folhas e raízes provêm da fotossíntese ou de reserva orgânicas previamente acumuladas nas raízes e pontos de crescimento durante o intervalo entre pastejos. Deste modo, os sistemas de pastejo devem ser adotados visando proporcionar à planta forrageira condições para a rebrota rápida e vigorosa. No caso de B. humidicola, face ao seu hábito de crescimento prostrado, há uma proteção razoável de seus pontos de crescimento, o que permite a utilização de pressões de pastejo maiores, comparativamente às espécies de hábito cespitoso. Avaliando-se os efeitos de três frequências (21, 42 e 63 dias) e duas intensidades de pastejo (5-10 e 20-25 cm acima do solo) sobre a produtividade e composição química de B. humidicola, constatou-se que a maior disponibilidade de matéria seca foi obtida com o pastejo baixo (14,9 t/ha), em relação ao alto (7,4 t/ha), com um declínio da produtividade à medida que se aumentava o intervalo entre pastejos, sendo 14,5; 9,7 e 9,4 t/ha, respectivamente para pastejos a cada 21, 42 e 63 dias. Quanto aos teores de PB e coeficientes de digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS), houve uma tendência de redução com o aumento do período de descanso. Deste modo, concluiu-se que o manejo mais adequado para a gramínea seria o pastejo contínuo ou a alternância de períodos curtos de descanso (menores ou iguais a 21 dias) e uso de cargas animal adequadas para manter a pastagem com cerca de 10 cm de altura. A capacidade de suporte média para pastagens de B. humidicola, estimada em função da taxa de acumulação de matéria seca foi determinada em 3,4 UA/ha (UA igual 450 kg de peso vivo) durante o período chuvoso e de 1,1 UA/ha no período seco. Em Rondônia, verificou-se que a utilização de 3,2 an/ha implicava numa redução de 20% na disponibilidade de MS de pastagens de B. humidicola, comparativamente a 1,8 an/ha, ocorrendo o inverso quando a pastagem foi adubada com 50 kg de P2O5/ha, ou seja, um incremento de 11%. No entanto, utilizando-se o mesmo nível de adubação fosfatada, foram observados decréscimos na disponibilidade de forragem de B. humidicola à medida que se aumentava as taxas de lotação (2,7; 1,8 e 1,5 t/ha, respectivamente para 2, 3 e 4 novilhos/ha). Em pastagens de B. humidicola, submetidas à pastejo contínuo por bubalinos, não foram detectados efeitos significativos da carga animal sobre a produção de forragem (rendimentos médios de 6,7; 6,9 e 6,6 t MS/ha, respectivamente para 1,0; 1,5 e 2,0 an/ha).

No manejo de pastagens consorciadas deve-se assegurar a sua estabilidade, notadamente da leguminosa, tida como componente mais valioso e instável da associação. Em pastagens de B. humidicola consorciadas com Desmodium ovalifolium, a proporção da leguminosa foi diretamente correlacionada à carga animal, sendo de 44, 51 e 78%, respectivamente para 2,0; 3,0 e 4,0 novilhos/ha. Já, na mistura com Pueraria phaseoloides, independentemente da carga animal, a percentagem de leguminosa na pastagem foi bastante equilibrada, oscilando entre 12 e 25%. Do mesmo modo, em Rondônia, após um período de avaliação de três anos, verificou-se que a percentagem de leguminosas (Stylosanthes guianensis, Centrosema pubescens e P. phaseoloides) em pastagens de B. humidicola, não foi influenciada pela carga animal (15 e 20%, respectivamente para 1,8 e 3,2 an/ha). Tendências semelhantes foram relatadas para pastagens de B. humidicola consorciada com D. ovalifolium e Arachis pintoi. Contudo, constataram-se reduções significativas na percentagem de P. phaseoloides em pastagens de B. humidicola, à medida que a carga animal foi elevada (14,8; 6,2 e 4,0%, respectivamente para 2,0; 3,0 e 4,0 an/ha). Para as condições ecológicas de Pucallpa, Peru, recomenda-se para pastagens de B. humidicola consorciadas com D. ovalifolium ou P. phaseoloides, a utilização de cargas animal não superiores a 2,0 UA/ha e períodos de descanso não inferiores a 28 dias. Desta forma, além da manutenção da produtividade e persistência da pastagem, ter-se-á um balanço gramínea-leguminosa bastante equilibrado, mantendo-se uma proporção, em relação à disponibilidade de matéria seca verde total, entre 5 e 15% para D. ovalifolium e, 30 a 50% para P. phaseoloides.

Newton de Lucena Costa - Embrapa Amapá 

 

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