Os rios de água barrenta que cortam a região amazônica carregam consigo uma quantidade de substâncias minerais e orgânicas em suspensão. No período das enchentes, por um processo natural, esses detritos naturais se depositam sobre as margens inundáveis dos rios, conferindo uma boa fertilidade aos solos e dotando-o de grande possibilidade para a exploração agrícola.
O processo de fertilização destas áreas, que regionalmente é conhecido como várzeas, se repete todo os anos e a regeneração natural da fertilidade, pode permitir a exploração continua destas terras sem que haja, em um curto período, a queda de produtividade capaz de comprometer os custos de produção de uma cultura, especialmente de grãos.
Com a finalidade de criar e formas de aproveitamento das várzeas para a produção de alimentos a Embrapa vem desenvolvendo no Estado do Amapá, trabalhos de pesquisa com vistas a incorporar as várzea ao processo produtivo de setor agropecuário. A Embrapa tem direcionado os trabalhos de pesquisa com culturas alimentares, entre elas o milho, que é uma das culturas mais importantes do sistema de produção utilizado pelo pelo produtor ribeirinho.
Nas pesquisas experimentais da Embrapa não foram desprezados inteiramente a experiência do caboclo ribeirinho e nem tampouco as práticas usadas nos seus sistemas de cultivo. Procurou-se sim, estudar e introduzir processos capazes de melhorar os sistemas agrícolas tradicionais. Na agricultura do produtor ribeirinho todos os trabalhos são realizados de forma manual, do preparo da área, plantio entre tocos e troncos remanescentes até a colheita de forma manual, assim sendo os trabalhos seguiram praticamente os mesmos procedimentos.
De um modo geral, o milho pode ser considerado uma das culturas de maior aceitação para cultivo nas várzeas do Amapá, isto em função de sua boa adaptação à estes tipos de solo, boa resposta produtiva, boa qualidade de grãos e fácil comercialização em espigas verdes com preços compensatórios.. Contudo para se conseguir êxito na sua exploração é necessário seguir algumas recomendações básicas, sem as quais o produtor não logrará sucesso na exploração de sua lavoura.
É aconselhável que por ocasião do preparo do solo para instalar a lavoura o agricultor deixar uma faixada vegetação nativa ao longo do rio, de no mínimo 80 metros a fim de evitar a erosão, mantendo-se também a vegetação próxima à nascente ou cabeceiras dos córregos e/ou igarapés. Em função das próprias características das várzeas que dificultam a utilização de maquinários o solo deve ser preparado de modo tradicional. Para a semeadura em dezembro, os trabalhos devem ser realizados em outubro ou novembro enquanto que para o semeio no mês de julho ou agosto o preparo da área deve ser feito momento antes da semeadura. Em virtude de ser possível realizar dois cultivos anuais em uma mesma, para segundo cultivo (julho ou agosto) os trabalhos de preparo da área pode constar de roçagem do restos culturais do primeiro plantio e queima. A semeadura deve ser manual com espaçamento de 1,0 metro entre linhas, mantendo-se as covas afastadas de 0,4 metro.
Na semeadura deve ser observada com atenção a distribuição das sementes em covas não superior a 5 centímetros de profundidade. Para se obter uma população ideal de plantas, considerando-se as falhas na germinação, recomenda-se colocar três a quatro sementes por cova, fazendo-se o desbaste quando as plantas atingirem aproximadamente um palmo de altura, para a permanência de duas plantas por cova. Nestas condições normalmente, para plantio de um hectare o produtor irá necessitar entre 20 kg a 30 kg de sementes.
Geralmente, da boa fertilidade apresentado pelos solos de várzea, os resultados de pesquisa têm mostrado que a adubação para o milho não é uma prática necessária, principalmente durante os três primeiros anos de cultivo em áreas novas. A partir deste período é aconselhável realizar uma análise de solo para se identificar possíveis deficiências de elementos minerais no solo.
O produtor ribeirinho deve dispensar especial atenção ao controle de plantas daninhas. A umidade permanente dos solos de várzea favorece de maneira significativa o ataque de invasoras. Desta forma, aconselha-se a manter a cultura sempre no limpo, iniciando-se o controle de invasoras desde o momento do preparo do solo e mantendo-se, principalmente, até aos quarenta dias após o plantio. A semeadura na época adequada é uma prática cultural que beneficia o milho na competição com as plantas daninhas. Três capinas tem sido o suficiente para se conseguir boas produtividades.
A utilização correta de simples práticas como uso de espaçamento e densidade de plantio adequados, semeadura em época certa, tratos culturais eficientes, época de colheita no momento certo e, outras práticas mais, como controle de pragas e uso de sementes de boa qualidade, é possível se obter produtividades acima de nove toneladas por hectare, em dois cultivos sucessivos e anuais. Sendo assim as várzeas da Amazônia e particularmente as do Estado do Amapá possuem enorme potencial para a produção de grãos, e entre eles o milho.