As várzeas na Amazônia brasileira são consideradas aquelas áreas inundáveis periodicamente por águas dos rios. Estes rios por sua vez são, via de regra, de águas barrentas e que carregam consigo uma inestimável quantidade de detritos orgânicos e minerais em suspensão. A deposição sistemática destes detritos nos solos de várzeas conferem-lhe uma fertilidade que poderá ter bom proveito para exploração agrícola.
Na hidrografia das várzeas próximo ao litoral as marés constituem o elemento dominador. Elas exercem influências na direção da correnteza, intensidade de sedimentação, qualidade da água, transporte de detritos minerais e orgânicos e na oscilação do nível das inundações.
As marés ao transbordarem na orla marítima ou no baixo curso dos rios, efetuam uma maior deposição de sedimentos nos trechos próximos das margens. É o que denominamos de várzea alta. As águas que cobrem a várzea alta não permanecem mais do que duas horas sobre o solo e este trecho, no Amapá, seca completamente durante os meses menos chuvosos.
Posteriormente à essa faixa marginal vêm outra que recebe os sedimentos menores. É de cota mais baixa e pode ser denominada de várzea baixa. Nesta a inundação se processa por mais tempo. As marés não chegam a cobrir a faixa marginal dos rios maiores, mas invadem os igarapés e por eles transbordam para a várzea baixa. Durante a estação chuvosa este trecho está quase constantemente alagado e atoladiço, mas com avanço da estação seca vai adquirindo consistência até tornar-se firme.
Existe também outro trecho onde a cota é ainda mais baixa que as citadas anteriormente e ficam inundadas pelas águas das chuvas na maior parte do ano. Esta faixa de extensão muito maior que as várzeas alta e baixa são designados de igapós, onde o solo tem consistência aquosa e mole.
O milho (Zea mays L.) é uma cultura de grande importância nos sistemas de produção utilizados pelos agricultores amapaenses. Contudo as produtividades que são obtidas no estado não tem estimulado os produtores a ampliarem suas áreas de cultivo. A exploração em solos de terra firme de baixa fertilidade natural, falta de utilização de fertilizantes em função de preços proibitivos e a não utilização de cultivares de comprovada qualidade genética, podem ser apontados como algumas das causas para o fraco desempenho produtivo da cultura no Amapá.
Contrário ao ecossistema de terra firme, tem o Estado extensas área de várzea que poderá ser incorporada ao setor produtivo agrícola, especialmente com culturas de ciclo curto como é o caso do milho. No Amapá é sugerido que existe em torno de seiscentos mil hectares de áreas inundáveis, a maioria, com grande possibilidade de ser incorporada ao processo produtivo do estado.
No ecossistema de várzea do Amapá já foram desenvolvidos trabalhos de pesquisa com esta gramínea onde os resultados mostraram o grande potencial produtivo apresentado por inúmeros genótipos avaliados. Também foram testados sistemas de produção envolvendo o milho e outras culturas como arroz, feijão caupi e mandioca, que mostraram grande viabilidade de produção.
Um dos problemas apresentado para se obter o sucesso do cultivo de milho nas várzeas diz respeito a época mais adequada para se realizar o plantio. O excesso de umidade durante o desenvolvimento vegetativo tem sido um dos fatores que tem prejudicado de forma mais marcante o desempenho produtivo da cultura.
Desta forma escolher o momento ideal para se realizar o plantio é sem dúvida alguma de fundamental importância para que o pequeno agricultor obtenha boas produtividades. Neste trabalho, baseado em dados de pesquisa, é indicado o momento ideal para se realizar o plantio de milho nas várzeas do Amapá.
O espaçamento recomendado é de 1,0 m entre linhas mantendo-se as covas afastadas de 0,4 m. A densidade ideal está no intervalo de 40.000 a 60.000 plantas por hectare com a utilização de duas plantas por cova. Utilizando-se sementes de elevado percentual de germinação é necessário entre 20 kg a 25 kg de sementes para o plantio de um hectare.
A primeira época de plantio está compreendido entre a segunda quinzena de dezembro até a primeira quinzena de fevereiro: para esta época o produtor deve utilizar as áreas de solo consideradas como de várzea alta. Em função da colheita ser realizada ainda em meses com boa queda pluviométrica a produção está mais propensa a ser utilizada como grãos. Na escolha da cultivar a ser utilizada no plantio é aconselhável o produtor atentar para a característica de bom empalhamento das espigas.
A segunda época de plantio está compreendido entre a segunda quinzena de julho e durante o mês de agosto: para esta época poderá ser utilizado os solos de várzea alta. Contudo, preferencialmente, o agricultor deve utilizar os solos de várzea baixa. Em função da colheita ser realizada em período seco a produção, via de regra, mostra boa qualidade para ser utilizada como sementes.
O pequeno produtor ribeirinho atentando para o momento exato de plantio do milho, poderá realizar dois cultivos em apenas uma ano, o que sem dúvida alguma representará um aumento significativo na produção de milho nas várzeas do Amapá.