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Insumos: “Nossa preocupação é manter a cadeia funcionando”

Presidente da Andav reforça a importância do setor, desafios na crise e transferência de tecnologia na cadeia de insumos


Foto: Eliza Maliszewski

Desde março quando a pandemia de coronavírus (Covid-19) passou a afetar o Brasil, o agronegócio é um dos setores que se mantém mais firme. Finalizando uma safra recorde de grãos de com produção superior a 250 milhões de toneladas e o algodão com a maior produção já registrada na série histórica com uma colheita estimada em 2,88 milhões de toneladas da pluma.

O Portal Agrolink vem acompanhando a situação de um dos setores-chave do agronegócio: o de insumos. O setor tem expectativa é que muitos processos mudem após a pandemia impactando defensivos e fertilizantes e planeja a retomada. O cenário é otimista e “tempo de oportunidade e de entender melhor nosso negócio”, diz Andav. Especilialistas também apontam este como o momento de comprar fertilizante, diante dos preços atraentes. 

Em uma entrevista especial conversamos com o Presidente Executivo da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), Paulo Tiburcio para analisar os desafios do setor neste ano, o cenário dos insumos, abastecimento e dificuldades. A entidade conta com mais de 1.700 revendas e filiais em todo país e tem feito uma readequação em seus atendimentos de forma que a cadeia não pare, uma vez que, o produtor não pode esperar pelo insumo para o andamento de sua lavoura. 

"Sugerimos antecipar a aprovação do Plano Safra 20/21, de forma a disponibilizar recursos de custeio e investimento"

"Transferir tecnologia sempre foi uma atividade inerente ao trabalho do distribuidor, hoje é um caminho sem volta"

"Até o presente momento não identificamos problemas em relação ao abastecimento"

"Iniciativas que promovam uma relação meio ambiente e produção saudável são sempre bem-vindas"

Portal Agrolink: como estão percebendo o setor com a pandemia de COVID-19?
Paulo Tiburcio:
há quase 60 dias estamos coletando informações junto aos nossos sócios e analisando os diferentes contextos que eles se encontram. Se trabalharmos com as informações de Distribuidores focados em atender grãos com soja e milho, podemos adiantar que até o momento eles sofreram pouca, ou nenhuma inversão. Ao tratar de distribuidores dedicados em atender produtores deflores, frutas e hortaliças, que no curto prazo foram muito afetados com a interrupção de feiras e eventos, sentimos impacto negativo da crise. Felizmente contamos com uma gestão do MAPA muito dinâmica e coesa. O trabalho da ministra Tereza Cristina e de sua equipe, está sendo fundamental para mitigar os impactos negativos na agropecuária brasileira. No documento que encaminhamos para ministra, entre outras propostas, sugerimos antecipar a aprovação do Plano Safra 2020/2021, de forma a disponibilizar recursos para custeio e investimento. Além disso, nós entendemos que a criação de linhas de crédito específicas junto ao BNDES, com recursos equalizados, reforça o Capital de Giro das Empresas e o financiamento não será interrompido aos produtores rurais.

Portal Agrolink: como o setor está se adaptando às mudanças tecnológicas, fusões de grandes empresas de agroquímicos e ao debate campo x urbano sobre uso de agroquímicos?
Paulo Tiburcio:
o mundo está em constante movimento e o mercado muda junto com ele. Em 30 anos de associativismo acompanhamos as grandes transformações no modelo de negócio da Distribuição. Transferir tecnologia sempre foi uma atividade inerente ao trabalho do Distribuidor, hoje é um caminho sem volta. Nosso trabalho é trazer ao campo mais do que ferramentas, nós somos os facilitadores, trazemos de uma forma como implementar melhorias, vivemos as dificuldades do produtor. Justamente por transitar entre novas tecnologias e a realidade do campo, trabalhamos fortemente na educação social, sobre a nossa preocupação em manter a segurança de todos os nossos processos. Dialogamos com todos os atores envolvidos nesta relação com o objetivo de trazer luz a debates ultrapassados. Entendemos que o diálogo aberto é chave para combater qualquer tipo dúvida, principalmente do nosso consumidor final.

Portal Agrolink: tivemos uma estiagem severa no Rio Grande do Sul associada às inseguranças financeiras. Isso deve impactar a próxima safra no setor de insumos?
Paulo Tiburcio:
acompanhamos a seca que prejudicou lavouras de vários municípios gaúchos e já encaminhamos ao Governo um ofício pleiteando a criação de uma linha de
crédito emergencial para os Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários, que são os principais financiadores das safras. Com o agravante do avanço do COVID-19, registramos 351 (trezentos e cinquenta e um) municípios com Decreto de Calamidade pela seca, fato devidamente registrado e acompanhado pela Defesa Civil Estadual e pelo Governo do Estado, onde as perdas desses produtores foram significativas, colocando alguns em situação de incertezas quanto a continuidade de suas atividades. Neste momento destacamos a inquestionável importância do Seguro Agrícola ou do Proagro. Muitos produtores gaúchos não seguraram suas colheitas e a inadimplência reflete negativamente e diretamente no fluxo de caixa dos Distribuidores/Revendedores, dado que o não recebimento das vendas dos insumos aos produtores, leva os a impossibilidade de quitar suas obrigações para com os seus fornecedores (Indústrias), de forma que esse endividamento leva-os a ter dificuldades de novas aquisições e, de forma direta, a terem dúvidas sobre o futuro de seus negócios no mercado, incluindo as próximas safras. Entendemos que articulação de esforços conjunta, pode mitigar o impacto desta crise duplamente agravada. Para isso contamos com o apoio do Governo ao disponibilizar linhas de crédito para socorrer comércios de insumos e reforçar junto aos produtores a necessidade de acessar as políticas do Seguro Rural para frear o agravamento de crises como a que enfrentamos hoje. Também temos reforçado a necessidade de ampliação de diálogo entre a Indústria e o Distribuidor, visando ampliação de limites de crédito bem como prorrogações nos prazos de pagamento.

Portal Agrolink: a China teve um tempo de parada na fabricação de insumos e problemas de logística para escoar. Acredita que os impactos vão repercutir no Brasil que importa grande parte de seus insumos?
Paulo Tiburcio:
até o presente momento não identificamos problemas em relação ao abastecimento. É importante explicar que, por questões aduaneiras, produtos importados, da China ou da Índia, a Indústria calcula em média de 90 entre o embarque do produto no país, até o desembaraço dos produtos em nossos portos. É provável que  estes 90 dias, possam se tornar 120 dias, mas entendemos que estamos preparados para evitar qualquer prejuízo causado por este possível atraso nas importações de produtos, até porque o maior volume de entrega dos insumos para os produtores acontece a partir de agosto.

Portal Agrolink: como observam a questão dos biológicos e do MIP. Isso pode gerar perdas no setor de agroquímicos ou vem a somar?
Paulo Tiburcio:
iniciativas que promovam uma relação meio ambiente e produção saudável é sempre bem-vinda. Mais do que nunca, precisamos lançar mão de recursos
que promovam um controle e adequação das manobras necessárias para cada cultura e para cada cenário. O responsável técnico sempre vai basear sua prescrição com dados científicos e seguindo as determinações de saúde de segurança dos órgãos competentes. Essa já uma realidade para o Distribuidor de Insumos, que reitero, se encontra além das questões de mercado, hoje ocupa um lugar essencial na manutenção dos processos e das boas práticas dentro da porteira. Para o setor isso só vem a somar!

Portal Agrolink: qual ou quais os maiores desafios do setor para este ano?
Paulo Tiburcio:
mercados dinâmicos e essenciais como o nosso sempre vão vivenciar desafios. Estamos sujeitos desde a imperes como a estiagem, a crises econômicas e até político-sociais como a que vivemos hoje. No curto prazo, ou seja, até o final deste ano estaremos focados em contornar os efeitos imediatos da crise provocada pela COVID-19. Nossa preocupação é manter a Distribuição de Insumos ativa e auxiliando o produtor em meio à crise, mas de forma segura, zelando pela vida de todos os nossos profissionais na linha de frente da produção de alimentos. Em 60 dias já encaminhamos dezenas de ofícios ao Governo e Órgãos Oficiais, desenvolvemos diversos materiais técnicos e informativos para orientar Distribuidores frente a COVID. Nossa preocupação agora é dialogar com Governo e Iniciativa Privada para encontrar um caminho do meio para socorrer os afetados pela crise e para criar um ambiente sustentável para manter a Agropecuária como alavancadora da nossa economia. Nossa responsabilidade e preocupação é manter a Cadeia de Produção de Alimentos em pleno funcionamento pois, em momentos de crise, a Segurança. Alimentar no Brasil e no mundo significa manter a vida e a paz.
 

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