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Adubação orgânica - Fontes, composição e eficiência

É importante definir previamente qual o objetivo da adubação orgânica.



Antes de se realizar uma adubação orgânica, é importante ter em mente o objetivo desta adubação, pois a matéria orgânica atua como condicionadora do solo, melhorando características físicas do solo, e como fornecedora de nutrientes. Quando temos o segundo objetivo, o adubo deve possuir altos teores de nutrientes essenciais às plantas, susceptibilidade à decomposição e liberação dos nutrientes em uma velocidade compatível com a demanda da cultura. Por exemplo, adubos com teores reduzidos de nitrogênio não devem ser utilizados para fornecer nutrientes, e podem até imobilizar os elementos na solução do solo, indisponibilizando estes às plantas. Deve-se destacar que o efeito do composto como agente condicionador do solo, melhorando suas características físicas, (retenção de água, plasticidade, porosidade, etc), talvez seja mais importante que seu efeito fertilizante.

Os principais tipos de fertilizantes orgânicos são:

  • Esterco de animais herbívoros (estrume) como gado, ovelhas ou cavalos, podendo estar misturado com restos vegetais. É necessário curtir os dejetos dos animais, juntando o material no chão e revirando-o a cada três dias aproximadamente, sempre evitando a umidade excessiva. Em aproximadamente um mês, o material estará pronto para uso na horta. Estes materiais possuem composições muito variadas, e são bons fornecedores de nutrientes, sendo o fósforo e potássio rapidamente disponíveis. Já o nitrogênio depende da facilidade de degradação dos compostos.
  • Adubação verde: é uma prática altamente recomendada em regiões tropicais e subtropicais, onde é possível plantar adubos verdes o ano inteiro, obtendo benefícios como fertilização do solo e melhoria das qualidades e estrutura do solo.


Créditos: Pixabay

  • Húmus de minhoca: resultante da decomposição da matéria orgânica digerida pelas minhocas, sendo a forma de matéria orgânica mais decomposta, facilitando a sua absorção e sendo uma boa fonte de micro-organismos para o solo. Outro fator positivo do húmus de minhoca, é o fato de que ao se locomoverem, as minhocas criam túneis que facilitam a penetração das raízes no solo e a aeração. Confira nossa seção sobre minhocultura clicando aqui.
  • Peixes e crustáceos: as cascas de crustáceos são excelentes opções para hortas, e são ricos em fósforo e nitrogênio, porém, para ocorrer a compostagem, devem ser enterradas. Também pode-se usar restos de peixes em plantios que exigem mais nitrogênio.
  • Borra de café: rico em fósforo, potássio e nitrogênio, trata-se de um composto de fácil manuseio. Após coar o café, o borrão pode ser depositado em volta das plantas, e também afasta lesmas e caracóis.
  • Cascas de ovos: rico em potássio e cálcio, indica-se que sejam lavadas, trituradas e adicionadas ao redor das mudas
  • Vinhaça: produzida nas destilarias de álcool, é rica em potássio, podendo também conter bons teores de nitrogênio, enxofre, matéria orgânica e alguns microelementos. A aplicação racional é feita com base no teor de potássio, sendo a maioria das aplicações in natura com quantidades entre 50 e 200 m³ por hectare.
  • Torta de filtro: resíduo da indústria açucareira, é rica em fósforo, cálcio, cobre, zinco e ferro, porém, possuindo uma alta relação C/N, podendo diminuir a disponibilidade de nitrogênio no solo. É também pobre em potássio, podendo ser aplicada combinada com vinhaça.
  • Resíduos de biodigestores: com uma composição variável, são ótimos adubos orgânicos, porém, deve-se atentar à presença de metais pesados.

 

Composição de adubos orgânicos

Abaixo apresentamos a concentração de nutrientes e elementos indesejáveis em diversos materiais fontes de adubação orgânica. Você encontra informações mais detalhadas para o manejo dos diferentes tipos de adubos orgânicos nas páginas específicas de cada fonte. Os adubos orgânicos devem, sempre que possível, ser analisados previamente, pois tanto a concentração de macro e micronutrientes como o teor de água podem variar muito, a depender da origem do material, espécie, alimentação, proporção entre os dejetos (fezes + urina), manejo e material utilizado para cama. Além disso, os adubos precisam passar pelo processo de maturação e estabilização antes de serem utilizados.

Nas tabelas abaixo, são apresentados os teores médios de carbono orgânico, macro e micronutrientes, matéria seca e elementos indesejáveis de alguns materiais fontes para adubação orgânica:

Tabela 1. Concentrações médias de nutrientes e teor de matéria seca de alguns materiais orgânicos, calculada com base em material seco em estufa a 65°C. 
Material orgânico C-org Ntotal* P2O5 K2O Ca Mg Matéria seca
  % (massa/massa)
Esterco sólido (suínos) 20 2,1 2,8 2,9 2,8 0,8 25
Composto de dejeto de suínos 42 1,6 2,5 2,3 2,1 0,6 40
Esterco sólido (bovinos) 30 1,5 1,4 1,5 0,8 0,5 20
Cama de frango (3-4 lotes)** 30 3,2 3,5 2,5 4,0 0,8 75
Cama de frango (5-6 lotes)** 28 3,5 3,8 3,0 4,2 0,9 75
Cama de frango (7-8 lotes)** 25 3,8 4,0 3,5 4,5 1,0 75
Cama de peru (2 lotes)** 23 5,0 4,0 4,0 3,7 0,8 75
Cama de poedeira 30 1,6 4,9 1,9 14,4 0,9 72
Cama sobreposta de suínos 18 1,5 2,6 1,8 3,6 0,8 40
Vermicomposto 17 1,5 1,3 1,7 1,4 0,5 50
Lodo de esgoto 30 3,2 3,7 0,5 3,2 1,2 5
Composto de lixo urbano 12 1,2 0,6 0,4 2,1 0,2 70
Cinza de casca de arroz 10 0,3 0,5 0,7 0,3 0,1 70
  kg/m3
Esterco líquido de suínos 9 2,8 2,4 1,5 2,0 0,8 3
Esterco líquido de bovinos 13 1,4 0,8 1,4 1,2 0,4 4

* A proporção do N total que se encontra na forma mineral (amoniacal: N-NH3 e N-NH4+; nítrica: N-NO3 e N-NO2) é, em média, de 25% na cama de frangos, 15% na cama de poedeiras, 30% no lodo de esgoto, 25% no esterco líquido de bovinos, 60% no dejeto líquido de suínos e 5% na cama sobreposta e no composto de dejeto de suínos. A proporção de N na forma mineral pode variar de acordo com o grau de maturação e tempo de armazenamento do adubo orgânico.
** Indicações do número de lotes de animais que permanecem sobre a mesma cama.

 

Assista aos vídeos abaixo, do Engenheiro Agrônomo Jonathan Basso no canal "AgroBrasil", sobre a contribuição nutricional de 1 ano de esterco de bovinos e suínos:

Tabela 2. Teores médios de cobre e zinco e de alguns metais pesados, em vários tipos de esterco e de outros resíduos orgânicos.
Material orgânico Cu Zn Cr Cd Pb Ni
  mg/kg*
Cama de frango (5-6 lotes)** 2 3 -*** - - -
Esterco de bovinos 2 4 - - - -
Esterco líquido de suínos 16 43 - - - -
Cinza de casca de arroz 8 89 - - - -
Cinza de madeira 44 65 45 1,7 10 29
Composto de lixo urbano 96 490 260 2 59 122
Lodo de curtume 23 118 1400 0,1 33 16
Vermicomposto 67 250 - - - -

* Concentração expressa com base em material seco em estufa a 65ºC.
** Indicações do número de lotes de animais que permanecem sobre a mesma cama.
*** Sem informação
Fonte: Laboratórios de Análises do CEFAF-EPAGRI e do Departamento de Solos-UFRGS.

 


Créditos: Pixabay

 

Abaixo temos a composição de alguns adubos verdes em base seca (não deixe de conferir nossa seção mais detalhada sobre adubação verde):

Tabela 3. Composição média de nutrientes de alguns adubos verdes (base no material seco a 110º C)
Material Mat. Org. (%) N (%) C/N P2O5 (%) K2O (%)
Abacaxi: fibras 71,4 0,9 44/1 traços 0,5
Algodão: semente 95,6 4,6 12/1 1,4 2,4
Amoreira: folhas 86,1 3,8 13/1 1,1 -
Arroz: cascas 54,5 0,8 39/1 0,6 0,5
Arroz: palhas 54,3 0,8 39/1 0,6 0,4
Aveia: cascas 85,0 0,7 63/1 0,1 0,5
Aveia: palhas 85,0 0,7 72/1 0,3 1,9
Banana: talos de cachos 85,3 0,8 61/1 0,1 7,4
Banana: folhas 89,0 2,6 19/1 0,2 -
Cacau: películas 91,1 3,2 16/1 1,4 3,7
Cacau: cascas do fruto: 88,7 1,3 38/1 0,4 2,5
Café: cascas 82,2 0,9 53/1 0,2 2,1
Café: palhas 93,1 1,4 38/1 0,3 2,0
Café: semente 92,8 3,3 16/1 0,4 1,7
Capim gordura 92,4 0,6 81/1 0,2 -
Capim guiné 88,7 1,5 33/1 0,3 -
Capim jaraguá 90,5 0,8 64/1 0,3 -
Capim limão cidreira 91,5 0,8 62/1 0,3 -
Capim milhã roxo 91,6 1,4 36/1 0,3 -
Capim mimoso 93,7 0,7 79/1 0,3 -
Capim pé-de-galinha 87,0 1,2 41/1 0,5 -
Capim-de-Rhodes 89,5 1,4 37/1 0,6 -
Cassia alata: ramos 93,6 3,5 15/1 1,1 2,8
Cassia negra: cascas 96,2 1,4 38/1 0,1 traço
Centeio: cascas 85,0 0,7 69/1 0,7 0,6
Centeio: palhas 85,0 0,5 100/1 0,3 1,0
Cevada: cascas 85,0 0,6 84/1 0,3 1,1
Cevada: palhas 85,0 0,7 63/1 0,2 1,3
Crotalária juncea 91,4 1,9 26/1 0,4 1,8
Eucalipto: resíduos 77,6 2,8 15/1 0,3 1,5
Feijão de porco 88,5 2,5 19/1 0,5 2,4
Feijão guandu 95,9 1,8 29/1 0,6 1,1
Feijão guandu: sementes 96,7 3,6 15/1 0,8 1,9
Feijoeiro: palhas 94,7 1,6 32/1 0,3 1,9
Grama batatais 90,8 1,4 36/1 0,4 -
Grama seda 90,5 1,6 31/1 0,7 -
Inga: folhas 90,7 2,1 24/1 0,2 0,3
Labe-labe 88,5 4,6 11/1 2,1 -
Lenheiro: resíduos 39,9 0,7 30/1 0,6 0,4
Mamona: cápsulas 94,6 1,2 53/1 0,3 1,8
Mandioca: cascas de raízes 58,9 0,3 96/1 0,3 0,4
Mandioca: folhas 91,6 4,3 12/1 0,7 -
Mandioca: ramos 95,3 1,3 40/1 0,3 -
Milho: palhas 96,7 0,5 112/1 0,4 1,6
Milho: sabugos 45,2 0,5 101/1 0,2 0,9
Mucuna preta 90,7 2,2 22/1 0,6 3,0
Mucuna preta: sementes 95,3 3,9 14/1 1,0 1,4
Samambaia 95,9 0,5 109/1 traços 0,2
Serrapilheira 30,7 1,0 17/1 0,1 0,2
Serragem de madeira 93,4 0,1 865/1 traços traços
Trigo: cascas 85,0 0,8 56/1 0,5 1,0
Trigo: palhas 92,4 0,7 70/1 0,1 1,3
Tungue: cascas das sementes 85,2 0,7 64/1 0,2 7,4


Fonte: Kiehl, 1985.

Abaixo, temos a composição nutricional de alguns resíduos industriais.

Tabela 4. Composição média de nutrientes em resíduos industriais (base seco)

Material M.O. (%) N (%) C/N P2O5 (%) K2O (%)
Algodão: resíduo de máquina 96,3 1,9 27/1 1,0 1,7
Algodão: resíduo "piolho" 81,8 2,2 21/1 0,9 2,1
Algodão: resíduo de sementes: 96,1 1,0 50/1 0,2 0,8
Bicho-da-seda: crisálidas 91,1 9,4 5/1 1,4 0,7
Bicho-da-seda: dejeções 82,1 2,7 17/1 0,6 3,6
Café: borra de café solúvel 90,4 2,3 22/1 0,4 1,2
Cajú: cascas da castanha 98,0 0,7 74/1 0,2 0,6
Cana-de-açúcar: bagaço 71,4 1,0 37/1 0,2 0,9
Cana: bagacinho 87,1 1,0 44/1 0,1 0,1
Cana: bagacinho embebido 89,9 1,7 29/1 0,3 1,7
Cana: borra de restilo 78,8 3,0 14/1 0,5 1,0
Cevada: bagaço 95,0 5,1 10/1 1,3 0,1
Couro: em pó 92,0 8,7 5/1 0,2 0,4
Fumo: resíduo 70,9 2,1 18/1 0,5 2,7
Laranja: bagaço 22,5 0,7 18/1 0,1 0,4
Lúpulo: bagaço 47,8 1,6 16/1 1,3 0,8
Mandioca: raspas 96,0 0,5 107/1 0,2 1,2
Penas de galinha: 88,2 13,5 4/1 0,5 0,3
Rami: resíduo 60,6 3,2 11/1 3,6 4,0
Resíduo de cervejaria 95,8 4,4 12/1 0,5 0,1
Sangue seco 84,9 11,8 4/1 1,2 0,7
Tomate: semente (torta) 94,3 5,3 10/1 2,0 2,3
Torta de algodão 92,4 5,6 9/1 2,1 1,3
Torta de coco 94,5 4,3 11/1 2,4 3,1
Torta de mamona 92,2 5,4 10/1 1,9 1,5
Torta de soja 78,4 6,5 7/1 0,5 1,5
Torta de usina de cana 78,7 2,1 20/1 2,3 1,2
Turfa 38,8 0,3 57/1 - 0,3

Fonte: Kiehl, 1985.


 

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Adubação orgânica - Introdução e vantagens
Adubação orgânica - Maturidade e estabilidade
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Estercos - Adubos orgânicos de origem animal
Compostagem - Etapas, vantagens e manejo
Minhocultura / Vermicompostagem - Introdução e espécies

 

 

José Luis da Silva Nunes - Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Manual de Adubação e de Calagem Para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10. ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2004.

EMBRAPA et al. MANUAL DE CALAGEM E ADUBAÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 1. ed. Brasília, DF: Editora Universidade Rural, 2013.

BARCELLOS, L.A.R. Avaliação do potencial fertilizante do esterco líquido de bovinos. Santa Maria, 1991. 108p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal de Santa Maria/RS.

SCHERER, E.E.; BALDISSERA, I.T; ROSSO, A. de. Utilização dos dejetos suínos como fertilizante. In: EPAGRI. Aspectos práticos do manejo de dejetos. Florianópolis: EPAGRI/EMBRAPA-CNPSA, 1995. 106p.

KIEHL, Edmar José. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba, SP: Ceres, 1985. 492 p.

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